29 de junho de 2007

"Espírito de Assis": Que significado?


No dia 29 de Outubro de 1986, João Paulo II recebeu em audiência o grupo de representantes das religiões não cristãs que participaram no encontro de oração em Assis. Nessa altura, afirma: Continuemos a difundir a mensagem da paz. Continuemos a viver o espírito de Assis (L’Osservatore Romano, ed. port., 16 de Novembro de 1986, p. 5).
Nestas palavras encontramos o significado da expressão “espírito de Assis”: compromisso na difusão da mensagem da paz. O “espírito de Assis” é o “espírito da paz”.
S. Francisco diria certamente: o “espírito de Assis” significa “ter o Espírito do Senhor e deixar que Ele actue”.
Mais que qualquer outra coisa devem os irmãos desejar ter o Espírito do Senhor e deixarem-no actuar neles (Francisco de Assis, Regra bulada 10, 9).
Para o Santo de Assis, o mesmo é “seguir as pisadas de Cristo” e “ter o Espírito do Senhor”.
Deus omnipotente, eterno, justo e misericordioso, concede-nos a nós, miseráveis, que por ti façamos o que sabemos que tu queres, e sempre queiramos o que te apraz, para que, interiormente purificados, interiormente alumiados e abrasados pelo fogo do Espírito Santo, possamos seguir os passos de teu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, e mediante somente a tua graça, chegar até ti, ó Altíssimo, que, em Trindade perfeita e em simples Unidade, vives e reinas e tens toda a glória, ó Deus omnipotente, por todos os séculos dos séculos. Amen (Francisco de Assis, Carta a toda a Ordem 50-52).
Francisco sabe que a vida espiritual supõe e exige uma viragem radical: passar do espírito terrestre ao Espírito do Senhor, mudar de espírito.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Têm o coração limpo, aqueles que desprezam os bens da terra e buscam os do céu, e não cessam nunca de adorar e contemplar, com alma e coração puros, ao Senhor Deus, vivo e verdadeiro (Francisco de Assis, Exortação 16ª).
Mudar de espírito significa renascer, nascer de Deus (Jo 1, 13), em cada dia e em cada momento, com um coração novo; com um olhar novo da pessoa em relação a si mesma, em relação a Deus, e a toda a realidade.
Francisco muda de espírito quando passa da aventura da guerra para a escuta do Evangelho da paz.
Era o ano de 1205. O jovem Francisco, procurando grandes glórias terrenas, decide alistar-se nos exércitos comandados por Gualter de Brienne. Arma-se magnificamente e parte. Estando a caminho, em Espoleto, quando dormitava, ouviu uma voz a perguntar-lhe onde queria ir. Revelou com prazer toda a sua ambição. Então a voz acrescentou: “Quem te pode dar mais, o Senhor ou o servo?” Respondeu: “O Senhor”. A voz replicou: “Ora bem, porque deixas o Senhor pelo servo, o príncipe pelo vassalo?” Então Francisco perguntou: “Que quereis que eu faça, Senhor?” “Volta para a tua terra – disse a voz – e lá saberás o que deves fazer...” (Legenda dos Três Companheiros 6).
Em Espoleto, Francisco optou pelo Senhor; poderia ter seguido o servo! Em S. Damião escutou bem aquela interpelação: “Vai e restaura a minha casa que experimenta a ruína!” (Tomás de Celano, Vida Segunda 10).
Homem atento, Francisco na capela de Santa Maria dos Anjos, depois de escutar no Evangelho o convite que o Senhor lhe faz para viver a missão da paz, sem medo, afirma: “Eis o que quero realizar com todas as minhas forças!” (Legenda dos Três Companheiros 25).
Foi acontecimento que o marcou para sempre. No Testamento (nº 23) recorda: Esta saudação me revelou o Senhor que disséssemos: o Senhor te dê a paz!
Até ao fim da vida, Francisco procurou sempre e acima de tudo desejar ter o Espírito do Senhor. E o Espírito incessantemente o foi conduzindo por caminhos de desprendimento de si mesmo cada vez mais profundo. Essa desapropriação interior, longe de constituir empobrecimento da sua rica personalidade, alargava-lhe, no coração, um espaço cada vez maior. Ia crescendo nele a capacidade de comunhão e de fraternidade. Recusando apropriar-se fosse do que fosse, entrava à vontade em comunhão com qualquer criatura. A pobreza transformava-se em riqueza. Era a chave do Reino. Com tal espírito de mansidão, Francisco renascia, ao mesmo tempo, para Deus, para o mundo e para si próprio (Elói Leclerc, Desponta o sol em Assis, Editorial Franciscana, Braga, 1999, 115).
Francisco renascia... para si próprio, reconciliando-se consigo; para Deus, descobrindo-O diferente; para os outros, chamando-os irmãos; para todos os seres, vendo-os todos, a partir da mesma origem – Deus Criador e Pai.


PAZ E BEM

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